União eletrizante de cinemão e esporte

Realizado pela Apple, em parceria com a própria instituição Fórmula 1 e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), F1: O Filme extrai o melhor da união entre o grande cinema e o esporte. Essa fusão poderosa nasce de uma rara combinação entre conquista cinematográfica e o total apoio institucional no entendimento e na execução do filme.
A primeira coisa que precisa ser destacada aqui é a conquista técnica do longa. O diretor Joseph Kosinski, que já havia revolucionado a forma como o cinema retrata velocidade e adrenalina com Top Gun: Maverick, repete o feito aqui, desta vez com carros. Os jogos de câmera, os posicionamentos e os ângulos utilizados nos colocam dentro de um carro a mais de 320 km/h. Inclusive — e aqui vai uma curiosidade — a Apple forneceu câmeras de iPhone para serem instaladas em pontos dos carros onde seria impossível posicionar câmeras de cinema tradicionais.

Isso se torna ainda mais potente ao sabermos que grande parte do filme foi gravada diretamente nas pistas, durante fins de semana reais de corrida. Esse detalhe contribui para uma imersão ainda mais forte, já que vemos o público, as celebrações no pódio e todo o ambiente verdadeiro do espetáculo.
As conquistas visuais são acompanhadas por um trabalho sonoro impressionante, que amplifica o tom e a imersão da experiência. A trilha hipnotizante do gênio Hans Zimmer é um espetáculo à parte, complementada por um álbum original com grandes nomes como Ed Sheeran, Rosé, Doja Cat, entre outros.
O filme também não economiza nas cenas de corrida: são empolgantes, variadas e nos envolvem emocionalmente de todas as formas possíveis. Isso, claro, graças às conquistas técnicas já citadas, mas também à montagem cuidadosa, que consegue condensar corridas de 70 voltas com 22 pilotos em apenas 15 minutos, sem nos deixar perdidos.

Narrativamente, F1 acerta ao usar o universo da Fórmula 1 para contar uma história fictícia. Particularmente, acredito que essa foi a escolha mais acertada. Caso fosse uma cinebiografia, as chances de cair no lugar-comum seriam altas. A criação de uma nova equipe, com personagens inéditos e arcos próprios, traz uma sensação de imprevisibilidade que nos mantém atentos e, por vezes, surpreendidos.
Nesse ponto, nós, brasileiros, temos um aceno especial e emocionante: em flashbacks e falas dos personagens, o nome do maior de todos, Ayrton Senna, é lembrado. Esse é mais um exemplo da liberdade criativa que o longa assume ao construir um mundo ficcional, mas enraizado em referências reais.
Mesmo quando caminha por clichês esperados — como brigas internas e acidentes em pista — o filme consegue nos surpreender. Isso porque equilibra bem esses elementos com uma abordagem interessante do mundo dos negócios e das tecnologias por trás da Fórmula 1, o que enriquece a narrativa.

Brad Pitt entrega um desempenho intenso como Sonny Hayes. Ele equilibra bem a arrogância e a experiência de um piloto veterano com o carisma necessário para liderar essa jornada. Damson Idris também brilha, interpretando um personagem que evolui visivelmente ao longo do tempo, seja pelo olhar, pelas expressões ou pelas ações que, ao final, são dignas de aplauso.
Javier Bardem, elegante como nunca, incorpora com excelência o papel de chefe de equipe, enquanto Kerry Condon completa o núcleo principal com uma engenheira charmosa, inteligente e que se impõe nos momentos cruciais da trama.
Além do épico esportivo e do drama centrado na ascensão da equipe, o filme ainda reserva espaço para momentos de humor, com pitadas bem dosadas de comédia que arrancam risadas sinceras.

Agora, para mim — um fã declarado e espectador assíduo da Fórmula 1 — é impossível não notar que algumas tecnicalidades da categoria foram suavizadas em prol da narrativa. Isso é compreensível e justificado por parte dos realizadores, que claramente buscaram tornar o filme acessível a um público mais amplo. Mas, em alguns momentos, esse tratamento acabou me afastando levemente da imersão.
Esse envolvimento, no entanto, era rapidamente recuperado toda vez que pilotos reais como Max Verstappen, Lewis Hamilton, Lando Norris, Charles Leclerc, Fernando Alonso e Oscar Piastri apareciam — seja por participações, menções ou referências — assim como antigos campeões, chefes de equipe e jornalistas do universo da F1.
Dessa forma, F1: O Filme se consagra como uma fusão impecável entre o que há de melhor no cinema blockbuster e no esporte de elite, entregando uma história envolvente que, embora não reinvente a roda, conquista pelo carisma, pela competência técnica e pelo puro prazer cinematográfico de acelerar fundo.