Uma atualização audiovisual e de temas

Quinze anos depois de Tron: O Legado, a Disney revive a franquia com Tron: Ares, e o resultado é uma mistura interessante de nostalgia e atualização temática. O filme se propõe a ir além do mundo digital e explorar o impacto da inteligência artificial no mundo real. Um tema mais relevante do que nunca. O resultado é uma experiência visualmente marcante, que respeita o passado da saga.
Entre os três filmes lançados até agora, Ares é o que melhor equilibra o digital e o físico. A direção do norueguês Joachim Rønning parece realmente se divertir ao mesclar a estética neon característica da franquia com cenários urbanos e naturais. O contraste entre os dois mundos cria uma sensação de expansão que, particularmente, me cativou.

Ainda que o longa tenha ambições temáticas, o roteiro opta por não mergulhar de cabeça nas discussões sobre IA, sentimentos e humanidade. E, sinceramente, é uma decisão acertada. Tron: Ares entende que seu maior trunfo está na imersão audiovisual, não na profundidade filosófica. O arco do robô em busca de autodescoberta é relevante, mas se encerra rapidamente, dando espaço para o espetáculo audiovisual que domina o restante do filme.
Visualmente, o filme é um deslumbre. As cores vibrantes, os efeitos de luz e os enquadramentos dinâmicos criam uma atmosfera que mescla o futurismo retrô dos anos 80 com a estética limpa e tecnológica do presente.

O mesmo pode ser dito da trilha sonora magnífica composta por Trent Reznor e Atticus Ross. Eles entregam uma combinação perfeita de som eletrônico e melancolia digital. Batidas pulsantes ditam o ritmo da narrativa e dão vida às sequências de ação, ao mesmo tempo que evocam o legado musical que Daft Punk deixou no filme anterior. É um trabalho que não apenas complementa, mas eleva cada cena.
Quando o assunto é elenco, porém, as coisas se tornam mais irregulares. Jared Leto, no papel de Ares, não convence. Sua interpretação carece da humanidade que o papel pede — ironicamente, já que o personagem está em busca de autocompreensão. Falta vulnerabilidade, e sobra artificialidade. É um desempenho funcional, mas distante do carisma que o filme precisava. Em compensação, Greta Lee brilha nas poucas chances que tem. Sua personagem funciona como o elo emocional da trama e traz um toque de humanidade à história, mesmo quando o roteiro insiste em usá-la apenas para explicar os acontecimentos. É Evan Peters que se sobressai com um personagem mais poderoso em nos envolver na narrativa.

Outro ponto que merece destaque é o ritmo. O longa mantém um bom equilíbrio entre contemplação e ação, sem se alongar desnecessariamente. Há uma fluidez que o torna acessível até para quem não conhece profundamente a franquia. O problema é que, ao optar por ser leve e direto, o longa abre mão de uma reflexão mais robusta sobre os temas que levanta — o que pode deixar um gosto de “poderia ir além”.
É impossível falar da nova produção sem citar alguns spoilers que se relacionam com os outros longas da franquia. Primeiro, a participação de Jeff Bridges, retornando como Kevin Flynn, consegue ao mesmo tempo ser emocional e servir para a trama e evolução do protagonista. Por fim, além de entregar um final satisfatório para a trama, o filme tem um pequeno epílogo/cena pós-créditos que me fez abrir um enorme sorriso ao pensar sobre um potencial futuro da franquia.

No geral, o Tron: Ares funciona como uma aventura sci-fi elegante e moderna, que sabe o que quer ser. Ele não tenta reinventar a roda, mas também não se limita a repetir fórmulas. É um filme que entende o valor da estética, da música e da experiência sensorial, oferecendo um espetáculo que conversa bem com a era da IA, mas sem se tornar refém dela.