O TROLL DA MONTANHA 2 | REVIEW

A lenda norueguesa se torna mais do mesmo

Pouco depois do lançamento de O Troll da Montanha, o filme norueguês original da Netflix rapidamente se tornou um dos maiores sucessos da história do streaming. A produção, que resgatava uma lenda cultural poderosa do país, viralizou em escala global — e, com isso, era inevitável que uma sequência fosse anunciada. Pouco mais de três anos depois, chega O Troll da Montanha 2, mais ambicioso e mais disposto a assumir o absurdo como parte fundamental de sua identidade.

Dessa vez, o longa abraça sem medo a proposta de se aproximar ao Monsterverse da Legendary, casa de Godzilla e Kong. Desde os primeiros minutos, fica claro que a Netflix quer transformar Troll em uma nova franquia gigante de monstros — em todos os sentidos. O filme já se apresenta maior, mais expansivo e com uma vontade explícita de competir no mesmo território blockbuster.

Logo no início, isso se materializa na narração inicial, que aprofunda a mitologia e tenta colocar o espectador de volta no universo nórdico. As cenas de grande escala também impressionam, revelando desde cedo a intenção de aumentar o escopo do mundo dos trolls e dar peso cinematográfico ao retorno das criaturas.

Ainda assim, o pontapé inicial da trama é fraco. A protagonista desperta um troll que estava desacordado há séculos simplesmente ao tocá-lo, um evento que parece saído de um conto improvisado e não de um roteiro de fantasia. A princípio, é difícil engolir. Mas conforme o filme abraça o exagero e se assume como uma mistura de ação, fantasia e galhofa, esse detalhe começa a incomodar menos.

A narrativa progride de maneira acelerada, com explicações básicas e soluções simplistas. Isso garante um ritmo eficiente e poucas barrigas, mas também deixa a sensação de que tudo é raso demais. O filme não aprofunda nada, apenas avança.

Como muitas produções centradas em monstros, o longa tropeça principalmente quando foca em seus personagens humanos. Grande parte deles não acrescenta quase nada além de atrapalhar a fluidez da história, servindo como peças que atrasam o que realmente nos interessa: os confrontos entre as criaturas.

O elenco, no geral, entrega bem o que o roteiro permite. O problema está na escrita de alguns personagens, que funcionam apenas como alívio cômico espalhafatoso e raramente acertam o tom. São figuras que poderiam desaparecer sem prejuízo algum, e talvez até melhorasse a experiência.

Por outro lado, o que já parecia óbvio desde a primeira meia hora se concretiza: um sacrifício final extremamente previsível. Construído desde os dez minutos iniciais, o momento tenta puxar lágrimas com uma subtrama familiar repetida à exaustão e uma trilha sonora que empurra o drama goela abaixo. O resultado é forçado, melodramático e nada eficaz.

Outro ponto que pesa é a dependência excessiva de referências e ganchos do primeiro filme. O longa apela com frequência para call-backs, fazendo com que a experiência seja mais difícil para quem não lembra tão bem dos acontecimentos anteriores ou não tem familiaridade com elementos da cultura norueguesa. Não atoa, antes de iniciarmos a Netflix apresenta um resumo do longa anterior, algo que, particularmente, nunca tinha visto.

O lado positivo é que, tecnicamente, o filme é muito bem resolvido. Os efeitos visuais impressionam, especialmente na criação dos trolls e nas cenas de ação entre eles. Há cuidado, textura, peso — e é o tipo de trabalho que realmente sustenta um blockbuster desse porte. O original, em certos momentos, escondia um pouco dos monstros. Aqui, isso não acontece por conta do maior investimento e cuidado técnico.

Como desfecho, cumpre seu papel. Fecha alguns arcos, entrega parte do espetáculo prometido e dá ao público o que veio buscar. Mas, sendo uma produção da Netflix, deixa claro que não pretende parar por aqui. A cena pós-créditos, digna de um vilão de novela das sete de baixo nível, escancara o desejo do streaming de continuar transformando Troll em sua franquia de kaijus.

No fim das contas, O Troll da Montanha 2 é maior, mais exagerado e mais consciente de sua própria galhofa. Funciona como passatempo, diverte quando assume o absurdo e impressiona nos efeitos. Mas sofre com escolhas narrativas preguiçosas, personagens humanos fracos e um drama que nunca convence.

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