A CONTURBADA TRAJETÓRIA DE ELIO

Desde antes de sua estreia nos cinemas, no dia 19 de junho, o filme Elio, da Pixar, foi alvo de muita atenção negativa por conta de diversos acontecimentos nos bastidores. Tais histórias foram refletidas no resultado do novo longa original do estúdio que, apesar de ter sido aclamado pela crítica e público, teve a menor estreia da história da Pixar no mundo inteiro, causando mais manchetes negativas e prejuízo ao estúdio sob comando da Disney.

Em um recente e longo artigo, o The Hollywood Reporter revelou informações dos bastidores do filme, constatando oficialmente, através de fontes de dentro do estúdio, que a produção foi ainda mais conturbada do que se falava.

Elio foi anunciado em setembro de 2022, durante a D23 (evento bienal da Disney), como um novo filme original que teria direção de Adrian Molina, que anteriormente trabalhou na Pixar como co-diretor de Viva: A Vida É uma Festa.

Desde então, o longa foi apresentado e concebido por Molina como “um retrato pessoal de amadurecimento sobre alienação juvenil”, com o diretor se inspirando na sua infância crescendo em uma base militar e, posteriormente, no Instituto de Artes da Califórnia. Entretanto, como já havia se tornado de conhecimento público no começo de 2024, o cineasta deixou o projeto alegando que “não via o filme chegando no fim da linha como o esperado”. Mas é aqui que novas informações divulgadas pelo THR entram.

De acordo com o site, durante uma exibição teste em 2023, o público presente aprovou a versão inicial do filme, mas, quando foram perguntados se o veriam no cinema, ninguém disse que sim.

Já em outra exibição, essa interna entre as lideranças da Pixar, a direção de Adrian Molina não teve feedbacks positivos, e o cineasta teria saído magoado com as críticas e, principalmente, com o chefe criativo do estúdio, Pete Docter.

No fim de 2023, a Pixar anunciou que Molina daria uma pausa no projeto (que também ficou parado), até que, no começo de 2024, anunciou-se que as diretoras Madeline Sharafian e Domee Shi assumiriam a responsabilidade. Segundo o THR, Molina foi convidado a continuar como diretor, mas optou por não seguir por causa das mudanças em sua visão para o filme que o estúdio e as novas responsáveis implementariam.

Tais mudanças são perceptíveis aos olhos do público ao compararmos o primeiro teaser trailer, lançado em junho de 2023, com a versão final do filme lançada dois anos depois. Na prévia, o jovem Elio claramente não está feliz de ter sido abduzido e confundido como o embaixador da Terra, o que, no longa, é o completo oposto. Além disso, a atriz America Ferrera (Barbie) faria a voz da figura materna de Elio, mas, com a nova visão, a atriz deixou o projeto e seu papel foi passado a Zoe Saldaña (Guardiões da Galáxia).

Mas, além do que o público pode perceber, o THR revelou que, por conta da visão criativa pessoal de Molina, o jovem Elio, de 11 anos, seria representado como um personagem queer, se inspirando no próprio diretor. Seria representado que, em sua infância, ele tinha uma paixão por moda e, em uma cena, ficaria implícito um crush por meninos. Tudo que pudesse sequer sugerir a sexualidade do jovem foi removido.

Funcionários da Pixar disseram, em entrevista ao site, que os próprios executivos do estúdio cortaram esses elementos do filme antes mesmo que a Disney pudesse reprová-los ou não. Como resposta, alguns deixaram o longa e foram trabalhar em outros projetos.

Tais artistas não culpam as novas diretoras pela mudança de visão e informaram que, claramente, elas deram o melhor de si com a versão final que chegou aos cinemas.

Esses acontecimentos podem ser observados de duas formas. A primeira é que a própria Pixar estaria cética em deixar elementos da sexualidade do garoto por conta de possíveis retaliações do público geral. Essa conclusão é possível, já que o próprio estúdio de animação nunca teve o costume de limitar a visão de seus artistas, inclusive quando se fala em homoafetividade nos seus filmes, até que retaliações aconteceram em outros projetos. Um exemplo disso é a amizade entre Luca e Alberto no filme Luca, em que, para muitos, fica implícito um envolvimento maior entre os dois personagens.

A segunda forma de observar os acontecimentos é ser alvo de críticas e observações negativas dentro da Disney, uma vez que os filmes originais da Pixar não estão tendo o retorno de crítica e bilheteria esperado pelo estúdio que comanda. Esses resultados aconteceram em filmes como Red: Crescer é uma Fera, Lightyear e Elementos — todos filmes originais que não são sequência nem parte de uma franquia.

Tais resultados foram superados negativamente por Elio, que estreou com apenas US$ 20,8 milhões nos Estados Unidos, sendo a pior estreia da história da Pixar. O recorde negativo antes pertencia a Elementos, que estreou com US$ 29,6 milhões. Entretanto, Elementos teve um sucesso a longo prazo com uma bilheteria impressionante no mundo inteiro, que o fez finalizar sua jornada nos cinemas arrecadando US$ 496,4 milhões. Em comparação, Lightyear, que estreou com US$ 50,5 milhões, finalizou seu tempo nos cinemas arrecadando US$ 226,4 milhões.

Elio, apesar de ter recebido críticas positivas, não deve ter nem de perto a jornada dos outros dois filmes, uma vez que a bilheteria no restante do mundo está ainda pior que a péssima estreia nos EUA. O que fortalece essa visão é que o público-alvo do filme, famílias, está com outras opções de mais sucesso nos cinemas, como Lilo & Stitch, da própria Disney, e Como Treinar o Seu Dragão. Além disso, a vindoura estreia de grandes filmes como Jurassic World: Recomeço, Superman e Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não ajudam em nada a esperança da Disney e da Pixar em relação ao novo lançamento.

Apesar da conturbada relação de bastidores em Elio, Adrian Molina continuará trabalhando com a Pixar, já que, neste momento, ele está trabalhando na direção de Viva: A Vida é uma Festa 2, que tem sua estreia prevista para 2029.

Também, mesmo com resultados negativos e pressão interna na Disney, a Pixar continuará a lançar filmes animados originais, mas investindo mais no desenvolvimento e na produção de sequências e em franquias conhecidas. Em 2026, o estúdio lançará o original Hoppers, em março, e Toy Story 5, em junho. Já em 2027, o original Gatto, e em 2028 Os Incríveis 3.

Confira aqui nossa crítica de Elio.

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