A HORA DO MAL | REVIEW

Entre a tensão e o riso nervoso

Zach Cregger retorna ao terror com A Hora do Mal, reafirmando seu domínio sobre o suspense psicológico e a construção de tensão gradual, que ele havia apresentado em Noites Brutais. Aqui, desde a premissa, o longa tem a capacidade de nos instigar, ao nos colocar em um ambiente que todas as crianças de uma mesma classe – exceto uma – somem na mesma noite e ao mesmo tempo. Ao final, o cineasta assume um tom mais expositivo, com cenas no passado e diálogos mais truncados, mas essa escolha, longe de comprometer, funciona como fechamento necessário após uma longa jornada de mistérios, camadas e inquietações que se acumulam ao longo da narrativa.

O roteiro constrói sua trama com uma instigação rara, nunca cedendo à pressa. Cregger trabalha com diferentes pontos de vista, conectando as histórias e soltando pistas de forma calculada, evitando respostas fáceis. A divisão em partes mantém a sensação de quebra e renovação, impedindo que o espectador acomode-se com respostas e uma estrutura cinematográfica comum. Quando as revelações chegam, são fortes e carregadas de impacto.

Esteticamente, o filme é um espetáculo. O cineasta transmite uma energia maníaca, alternando estilos de filmagem: de tomadas em primeira pessoa, claustrofóbicas, para closes sufocantes que capturam muito do sentimento dos personagens em tela. Longe de servirem apenas como sustos gratuitos, sequências de sonhos são usadas para transmitir sentimentos profundos dos personagens, ao mesmo tempo em que não deixam de provocar sobressaltos genuínos.

A tensão também é amplificada por um artifício pouco usado no cinema moderno, mas muito intrigante: a informação desigual. Em diversos momentos, o público sabe ou vê algo que o personagem em tela desconhece. Essa manipulação é feita de forma magistral, alimentando a ansiedade e mantendo o suspense vivo mesmo em cenas aparentemente calmas.

No terço final, há uma virada ousada: o tom flerta com uma comédia bruta, quase absurda, sem abandonar o horror da situação. São momentos que arrancam risadas nervosas pela estranheza e pelo exagero grotesco, como se o riso fosse o único alívio possível diante do caos. Essa mudança de registro poderia ser arriscada, mas Cregger demonstra pleno controle do tom.

No elenco, Julia Garner entrega uma atuação introspectiva e carregada de nuances, interpretando uma professora sobre quem paira a suspeita de envolvimento no caso central — suspeita essa que o filme habilmente desconstrói. Josh Brolin, por sua vez, é impecável como o pai determinado, um personagem de força emocional imediata, com quem o espectador cria rápida conexão. Benedict Wong, Austin Abrams e Alden Ehrenreich também não ficam atrás ao comandarem pontos de vistas que aproveitam muito da falta de aproximação desses personagens para avançar a história de forma mais direta. Além deles, Amy Madigan é instantaneamente uma das antagonistas mais aterrorizantes do terror moderno.

A Hora do Mal dialoga com questões sociais urgentes, em especial violência em escolas e o impacto disso sobre crianças e seus traumas. Por grande parte da produção, isso fica apenas implícito, mas em seu rápido epílogo, o filme transparece isso com mais clareza em uma narração. No fim, o diretor entrega uma obra que combina mistério, desconforto e reflexão, e que em nenhum momento esquece de sua trama e tensão.

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