CORAÇÃO DE FERRO | REVIEW

Tecnologia e magia em colisão

A mais nova série live-action da Marvel no Disney+, Coração de Ferro, acompanha a personagem-título poucos meses após sua introdução em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre. Apostando em uma história de escala menor, a produção se apoia nas relações entre os personagens e nas inúmeras referências ao Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) para construir sua narrativa.

Durante os primeiros episódios, a série parece atirar para todos os lados em busca de um rumo. Com isso, as tramas se entrelaçam de maneira forçada e confusa, dificultando o envolvimento do público. Felizmente, esse problema é consideravelmente reduzido nos três episódios finais, quando a narrativa se afunila e encontra uma direção mais clara. Nesse momento, a produção equilibra melhor o espetáculo visual típico da Marvel com reflexões temáticas sobre luto e ambição.

O luto, inclusive, é utilizado como uma das motivações centrais de Riri, mas sua exploração constante e pouco sutil faz com que o recurso pareça forçado. Ainda nesse tema, a ideia de transformar a amiga falecida da protagonista em uma inteligência artificial é ousada e criativa — e poderia ser um acerto narrativo. No entanto, sua execução falha, especialmente devido à personalidade artificial exagerada da IA, que prejudica a fluidez emocional da trama, atrapalhando também durante a ação.

Dominique Thorne entrega uma atuação sólida como Riri Williams, embora a personagem em si tenha atitudes e traços de personalidade que dificultam a empatia. Já Anthony Ramos rouba a cena como o Capuz, um vilão caricato, mas que funciona dentro da proposta de representar a sede desmedida por poder e controle. Os coadjuvantes Regan Aliyah e Sacha Baron Cohen, mesmo com pouco tempo de tela, conseguem compor figuras intrigantes e promissoras.

No aspecto técnico, a série se destaca como uma das mais visualmente caprichadas do MCU. A direção aposta em cores vibrantes, paletas ousadas e uso marcante de neon — uma identidade visual própria que funciona muito bem. O CGI também é competente, beneficiado pelo longo tempo de pós-produção. A série foi filmada em 2023, e só foi lançada agora, com um intervalo maior do que o usual para os padrões da Marvel.

No geral, a série surpreende ao expandir o lado místico do MCU ao explorar a interseção entre tecnologia e magia — e o faz com eficiência sempre que mantém esse foco. No entanto, escorrega quando insiste demais na dimensão pessoal dos personagens sem a devida sutileza ou desenvolvimento emocional.

Apesar das falhas iniciais, Coração de Ferro entrega um desfecho satisfatório e deixa um saldo positivo. Resta torcer para que a Marvel não abandone esse potencial e dê continuidade à história de Riri, seja em novas temporadas ou em participações futuras no MCU — evitando mais um caso de promessas sem retorno.

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