Sabe o que faz, mas não faz o que pode

Em Olhos de Wakanda, a Marvel aproveita a arte da animação para explorar o infinitamente rico universo mitológico que gira em torno do Pantera Negra e da nação africana, estabelecido por Ryan Coogler nos filmes Pantera Negra e Pantera Negra: Wakanda Para Sempre. Com isso, a nova produção une cuidado visual e estético, cultura e história para nos apresentar uma antologia de tramas que são interligadas pela mitologia.
De cara, nos ressalta aos olhos o enorme cuidado que a produção tem em criar uma identidade visual que alinhe com a cultura africana e os conceitos por trás da estética de Wakanda nos filmes. Enxergo isso como o reflexo do realizador principal, Todd Harris, que trabalhou como ilustrador e artista para várias produções da Marvel. Aqui, estreando na direção e criando todos os episódios, ele imprime uma beleza estética numa animação diferenciada misturando estilos de pintura com o 3D.

Isso é expandido uma vez que a série escolhe retratar diferentes locais e diferentes épocas, trazendo um senso enorme de novidade a cada episódio, usando a estrutura de, em cada episódio, abordar um período histórico destacando a missão de um Cão de Guerra. A série nos transporta para Troia, China Imperial e Guerra da Etiópia sempre acompanhando guerreiros de Wakanda em busca de proteger aquilo que eles têm como nação e lar. Esse conceito, do país ser escondido, já havia sido estabelecido nos filmes, e a série é majestosa ao saber lidar com esse conceito e conectar, de certa forma, com a desconstrução do mesmo durante o longa lançado em 2018.
Mesmo com toda a beleza, as novidades, as impecáveis paisagens e personagens carismáticos, falta a produção um aprofundamento maior em tudo. Se tratando de temas e dilemas, a série nos apresenta vários, mas sempre pela superfície, já que se limita a quatro episódios de somente meia hora. Com isso, a principal conclusão é que o grande problema é o fato de a produção ser curta, e não ceder espaço para que seus personagens e sua mitologia brilhem ainda mais.

Isso é reforçado quando temos com o que se importar. Os personagens são carismáticos, às vezes até o antagonista apresenta um certo equilíbrio, mas como tudo tem que ser e acontecer muito rápido, falta substância e melhor exploração do enorme potencial. E é claro, a série não esquece seu lado de estar ambientado no universo compartilhado da Marvel. Dessa forma, existem diversas “piscadelas” para os fãs, mantendo o perfil das produções do estúdio. Felizmente, isso também é feito com cuidado e sempre dentro das narrativas e das ambientações.

No geral, acaba sendo superinteressante acompanhar essas jornadas rápidas, mesmo sabendo que ela se limita em alcançar o seu máximo. Mas, felizmente, Olhos de Wakanda consegue mostrar com primor a riqueza do canto Pantera Negra do UCM. Ao mesmo tempo, ela apresenta uma estrutura que se mostra bem-sucedida em sua missão de abordar o passado pela animação. Se a Marvel continuar a explorar isso, saiba que eu não me cansarei, ainda mais se derem maior espaço para as histórias, os personagens e as mitologias brilharem.