THUNDERBOLTS* | REVIEW

Um filme em que a Marvel fala sobre depressão

Thunderbolts*, da Marvel Studios, chega para dar espaço e voz para personagens que, em outros filmes e séries, não puderam brilhar por conta própria. Ao juntá-los como uma equipe de renegados, temos uma dinâmica de grupo impecável que proporciona momentos superengraçados e uma discussão existencial que afeta todo o grupo protagonista. Isso, claro, é complementado pelo toque Marvel, que proporciona cenas de ação surpreendentes para um diretor pouco experiente em longas-metragens.

Jake Schreier tem uma direção que impressiona, apesar de visualmente o filme não ser dos mais brilhantes. As cenas de ação e como são filmadas nos permitem entrar na dinâmica do filme. A cena inicial, onde uma luta é filmada do teto e sem corte, é um espetáculo. Mas também não é a única, já que a luta entre o grupo, e depois contra a ameaça maior hiperpoderosa, nos permitem ver o que está acontecendo e entender a capacidade de cada indivíduo. Na parte visual, é um longa que também chama atenção ao não ter aquelas cores muito nítidas costumeiras de produções da Marvel. Eu também destaco a trilha sonora de Son Lux, que usa sintetizadores para ditar o tema depressivo da produção.

Florence Pugh como Yelena, pela terceira vez, se prova como uma das melhores escalações da história do estúdio. Ela carrega boa parte do drama existencial do filme, em momentos de desabafo, onde ela chora, e em momentos em que ela é a responsável por elevar a autoestima de alguns personagens. Sebastian Stan, um dos mais antigos no UCM, retorna como Bucky em um papel discreto, mas que serve como o “rosto que conhecemos” para nos guiar na trama.

Wyatt Russell é o babaca perfeito como John Walker/Agente Americano, um personagem que já havia sido bem desenvolvido em Falcão e o Soldado Invernal, mas aqui ganha ainda mais espaço com seu jeito estúpido que, muitas vezes arranca boas risadas. Hannah John-Kamen, como Ava Starr ou Fantasma, tem a reviravolta de deixar de ser uma das vilãs mais mal aproveitadas do UCM, em Homem-Formiga e a Vespa, para uma heroína com um poder massa e um carisma de respostas rápidas único. Olga Kurylenko é o ponto surpreendentemente negativo do elenco do filme, já que seu retorno é rápido demais. Por fim, para completar a equipe, David Harbour é um mega alívio cômico para o longa, repetindo seu papel de Guardião Vermelho em Viúva Negra, onde, particularmente, já havia me conquistado. Aqui ele brilha como o grandão engraçado e como pai.

Lewis Pulman como Bob, é uma grande introdução de personagem. Além de suas diversas camadas e personalidades, guarda muitas surpresas em relação a suas capacidades e poderes. Julia Louis-Dreyfous repete seu papel de Valentina Allegra de Fontaine, agora com mais espaço para o desenvolvimento de seu objetivo de mais poder, que vem sendo pincelado desde Falcão e o Soldado Invernal.

Juntos, todos esses personagens apresentam uma mecânica verdadeiramente disfuncional e engraçada, mas dentro do próprio grupo, existem duplas com dinâmicas que acrescentam ainda mais ao todo. Como a relação de pai e filha entre Yelena e Alexei, a babaquice de Walker com o Bob, as tiradas rápidas de Ava com todo mundo, e o entendimento de Yelena com Bob.

Todos os personagens aqui estão visivelmente sem propósito, sozinhos ou sem rumo na vida, e para mim, foi muito surpreendente a Marvel usar isso como tema principal para o desenvolvimento de sua narrativa. O personagem Bob é o centro de toda essa alegoria de depressão, tema que a produção não esconde. Isso trouxe um ar de novidade para os filmes do estúdio, e um complemento superpositivo a uma história que avança também a trama geral do universo cinematográfico.

Todos os elementos presentes como trauma, depressão, saúde mental e isolamento são responsáveis pelo brilho de originalidade, uma vez que, a maior parte dos longas do estúdio têm como secundário à história, a comédia clássica Marvel com piadinhas no meio de diálogos e da ação. Não que aqui isso seja ausente, mas está longe de ter o espaço que os temas importantes possuem.

O filme é claramente uma história de origem para o grupo, apresentando-os com uma dinâmica envolvente. Mas, felizmente, como poucos outros nos últimos anos, este cita diversos acontecimentos de outras produções, além de pegar os personagens já apresentados. São várias citações que nos deixam a par do universo e ainda nos aponta de forma mais clara o caminho da grande história.

É realmente impressionante como foram capazes de encaixar tudo isso nessa produção, que poderia facilmente ser um enorme desastre. Se pararmos para pensar, tudo ia contra. Momento atual da Marvel, personagens que não nos importamos, falta de direcionamento, tema profundo. Mas felizmente, Thunderbolts* (sim, o asterisco tem significado e é ESPETACULAR) supera com classe, ao nos apresentar uma dinâmica impecável de equipe, uma história envolvente e abordar um importante tema real como centro de sua história. E não posso me esquecer, esse filme é o responsável por recuperar o estilo clássico de cena pós-crédito da Marvel.

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