Mais gótica, menos coesa

O sucesso avassalador da primeira temporada de Wandinha, que se tornou uma das produções mais assistidas da história da plataforma, não só apresentou ao público uma protagonista carismática e intrigante, como também estabeleceu um universo rico, cheio de mistérios e personagens marcantes. Com isso, a curiosidade em torno da continuação era inevitável. A boa notícia é que a série mantém boa parte de sua força, mesmo tropeçando em alguns pontos narrativos.
Desde os primeiros episódios, é perceptível o salto de qualidade na parte visual e cinematográfica. A produção abraça uma escala maior, com cenários mais elaborados, fotografia mais refinada e direção que valoriza a atmosfera gótica característica da série. Esse crescimento estético, contudo, contrasta com a menor coesão no desenvolvimento da trama, que por vezes parece perder a mão ao tentar abraçar muitas ideias ao mesmo tempo e separando a narrativa em “mini-tramas”.

Um dos problemas mais recorrentes dessa temporada é a sensação de “encheção de linguiça”. Existem arcos que parecem ser introduzidos apenas para alongar a narrativa e, mesmo quando eles rendem momentos divertidos ou trazem pequenos avanços de personagens, a resolução apressada os torna pouco memoráveis. Isso gera um impacto direto no ritmo da temporada, que fica menos satisfatória quando comparada à primeira.
Outro deslize é a tentativa de explicar demais. O roteiro dedica tempo para responder a perguntas que ninguém realmente fez, como a origem do Mãozinha. Embora seja curioso em um primeiro momento, esse tipo de explicação soa desnecessária e até infantil, quebrando parte do mistério que sempre foi um dos pontos fortes da série. Essa tendência se repete em outros momentos, o que enfraquece a atmosfera enigmática que tanto atraiu o público no início.

Ainda assim, a temporada encontra força em sua temática central: a família. A relação entre Wandinha e Mortícia ganha destaque e rende momentos emocionantes que aprofundam a protagonista, tornando-a mais complexa. Além disso, sempre que algum membro da Família Addams entra em cena, o nível da série sobe. Cada personagem carrega uma personalidade tão singular que sua simples presença já transforma as interações em momentos de ouro.
Outro ponto positivo é o equilíbrio encontrado entre o clima adolescente da escola e o lado sombrio da trama. Ao contrário da primeira temporada, em que o tom “teen” às vezes destoava, aqui a série consegue costurar melhor os dramas juvenis com os elementos macabros e mais pesados. Essa fusão fortalece a identidade da série e mantém o público preso, mesmo quando a narrativa central vacila.

Em resumo, a segunda temporada de Wandinha pode não alcançar a mesma solidez narrativa da primeira, mas ainda entrega uma experiência envolvente e visualmente mais sofisticada. O que se destaca são as relações familiares, a construção da protagonista e o charme inegável da atmosfera gótica.