E também a mais lenta…

A Grande Viagem da Sua Vida é aquele tipo de filme que até começa com uma premissa interessante, mas logo se perde em sua própria confusão. A ideia de um carro mágico que, por meio de um GPS, guia os protagonistas para diferentes fases de suas vidas poderia render um ótimo roteiro. Mas a execução fica bem aquém, já que o longa nunca se preocupa em explicar ou mesmo justificar esse elemento fantástico e nem em estabelecer uma narrativa que o conduza.
Os protagonistas, David e Sarah, se conhecem em um casamento e acabam juntos nessa jornada. O problema é que o filme faz questão de deixá-los extremamente chatos. Não é de forma intencional, que cria boas situações cômicas ou dramáticas; é apenas entediante. Ao mostrar que suas vidas foram arruinadas justamente por suas personalidades, o roteiro reforça uma desconexão enorme.

Ainda assim, não dá para negar que existem alguns momentos de apreciação. Aqui e ali, o filme acerta em pequenos fragmentos, como uma cena de vulnerabilidade. Mas esses acertos são isolados, não dialogam entre si e não formam uma trama coesa. É como se fossem curtas-metragens soltos em um longa muito maior do que deveria ser.
Outro tropeço vem da pressa em fazer os personagens se apaixonarem. David e Sarah passam da antipatia inicial para uma conexão profunda em pouco tempo. Até se entende a proposta de acelerar o tempo para acompanhar as fases da vida, mas isso não é desculpa para um romance sem qualquer base. Fica difícil comprar a ideia de que eles realmente se conhecem ou que estariam prontos para mergulhar em algo novo.

Os diálogos são tão artificiais que chegam a dar vergonha alheia em certos momentos. Tentativas de humor falham, e até as falas mais sérias soam rasas. Em vez de aproximar o público dos personagens, só afasta mais.
Na direção, Kogonada até tenta imprimir uma marca pessoal. A inspiração no estilo anime é clara, e até funciona dentro da proposta de uma jornada onírica e fragmentada. O problema é que essa linguagem não se encaixa nada bem no live-action. O que poderia soar como um toque poético é transformado numa experiência estranha.
O que salva, de certa forma, é o visual. As cores fortes e a iluminação artificial criam uma atmosfera curiosa, que ao menos dá a sensação de estar em um sonho constante. Esse aspecto estético segura parte da atenção e reforça a intenção de criar um mundo mais simbólico do que real.

No fim, o que impede o filme de ser um desastre completo são Margot Robbie e Colin Farrell. Suas atuações são modestas, mas cumprem o necessário. Robbie consegue transmitir uma mulher ciente de suas falhas e relutante em se abrir, enquanto Farrell aparece como alguém perdido, que tenta encontrar em Sarah uma nova razão para seguir em frente. A química não é das melhores, mas ambos dão um mínimo de vida ao longa.
A Grande Viagem da Sua Vida é um filme com boas ideias desperdiçadas em uma narrativa frouxa e personagens desinteressantes. O visual bonito e as atuações competentes não são suficientes para apagar os diálogos fracos, o romance mal desenvolvido e a tentativa frustrada de aplicar linguagem de anime em live-action. No fim das contas, a viagem até pode ter momentos curiosos, mas é lenta, cansativa e facilmente esquecível.