ALIEN: EARTH | REVIEW

Quando as criaturas assumem o controle

Quase meio século depois do nascimento da franquia, Alien: Earth marca a estreia de Alien no formato de série de TV. É um passo ousado, já que a mitologia criada por Ridley Scott sempre brilhou na tela grande, mas aqui os realizadores aproveitam a oportunidade para expandir o universo. O resultado é uma boa mistura sci-fi e terror, mas também investe pesado em reflexões mais filosóficas – o que nem sempre é bem executado.

De certa forma, a série molda uma narrativa complexa que vai além do embate clássico entre humanos e xenomorfos. O grande tema em jogo é a diferença entre humanos e robôs. Essa abordagem psicológica cria uma atmosfera intrigante e nos coloca diante de dilemas morais que ampliam o escopo da franquia.

Mas é bom avisar: a série toma seu tempo. Os episódios são lentos, com diálogos longos e muitas vezes maçantes. Pessoalmente, gostei da densidade e da forma como esses momentos aprofundam a narrativa. Porém, é fácil imaginar a frustração do público que esperava um ritmo frenético de ação e terror, como nos filmes clássicos.

Isso não significa que não haja ação e terror. Muito pelo contrário: cada episódio reserva uma ou duas cenas grandiosas que podem entrar para o hall das melhores da franquia. Quando a tensão explode, explode com força. O design de produção, fiel ao estilo retrô dos primeiros filmes, e a qualidade técnica impressionante para uma série de TV, elevam essas sequências a momentos memoráveis.

Grande parte desse impacto vem das novas criaturas apresentadas. Ao longo da temporada, surgem meia dúzia de monstros e alienígenas inéditos, cada um com sua própria função narrativa e estética. O trabalho de movimentação e ameaça é impecável. São seres que assustam não só pela aparência, mas pela forma como se movem e pelo perigo que representam.

Por outro lado, a introdução dessas novas ameaças acaba reduzindo o papel do xenomorfo. Ele continua presente, claro, mas seu potencial não é explorado como poderia. Para uma franquia que deve sua identidade ao terror do alienígena clássico, essa escolha pode decepcionar parte do público. É como se a série tentasse abrir espaço demais para novidades e, no processo, esquecesse de valorizar o que já tinha.

A temporada em si é uma verdadeira montanha-russa. Alguns episódios entregam momentos espetaculares, outros parecem arrastar a trama sem grandes avanços. O que mais me marcou foi o quinto episódio: praticamente um filme Alien em versão compacta. Ele resgata toda a essência do original de 1979, tanto em atmosfera quanto em execução técnica.

Outro ponto curioso é o uso de paralelos com Peter Pan. Essas metáforas dão origem a discussões interessantes sobre juventude, fuga da realidade e a ideia de ser ou não ser uma criança. Porém, o recurso é subutilizado: surge com força no início, some no meio da temporada e só retorna com impacto no episódio final.

No quesito personagens, a série fica devendo. Os humanos são, em sua maioria, antagonistas desinteressantes, enquanto os protagonistas são crianças com personalidades irritantes presas em corpos de robôs adultos. Falta carisma. Mesmo assim, o elenco se esforça. Sydney Chandler se destaca como a protagonista e Timothy Olyphant entrega um personagem frio e misterioso que traz uma energia diferente para a trama.

Alien: Earth é uma série que mistura ousadia e frustração. Ao mesmo tempo em que apresenta novos conceitos e momentos inesquecíveis, ela também sofre com lentidão, personagens pouco cativantes e a subutilização do xenomorfo. Ainda assim, sua atmosfera, qualidade técnica e a coragem de explorar novos caminhos tornam a experiência válida.

No fim das contas, é uma expansão que funciona em partes. Amplia a mitologia da franquia, traz novas criaturas assustadoras e momentos de pura tensão, mas peca na irregularidade e na falta de personagens envolventes. O saldo é positivo, mas com margem clara para crescimento. Uma segunda temporada teria muito espaço para corrigir erros e consolidar os acertos.

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